A indústria baiana está diante de um paradoxo. De um lado, a crise econômica eleva as taxas de desemprego e torna o cenário mais complicado para as empresas, levando trabalhadores e empresários a buscar o apoio das entidades do Sistema S, como o Sesi e o Senai. Do outro lado, o ajuste nas contas leva o governo a projetar cortes nos repasses para o sistema, pondo em risco mais de 11 mil vagas de qualificação, só na Bahia, e a construção de 12 novos centros de formação no interior do estado. O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Antônio Ricardo Alban, acredita que a solução apresentada pelo governo federal, de “confiscar” em 30% os repasses da iniciativa privada para o financiamento do Sesi e Senai é a pior possível.
O governo anunciou o projeto de cortar parte das contribuições para o Sistema S. O que isso vai representar para o setor?
A interferência nos recursos do Sistema S é totalmente incoerente com o que se espera do Brasil. Se queremos mais eficiência dos recursos públicos, melhor eficiência da máquina pública, o que está sendo proposto vai na direção contrária. É amplamente confirmado que o setor privado é muito melhor gestor de recursos que o setor público. É incoerente transferir de quem dá resultado para quem é ineficiente.
O que está sendo feito para tentar reverter este cenário?Isso tudo não preocupou apenas o Sistema S da Fieb. A preocupação é generalizada, preocupou toda a indústria no Brasil, o setor de comércio e serviços, a agricultura, transportes, o próprio Sebrae e as cooperativas. Houve tratativas e conversações no Congresso e com o governo.
Houve algum tipo de conversa antes de anunciar as medidas?
Não houve conversa nenhuma com o setor produtivo e a informação que temos é a de que nem o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, foi informado antes. Ele não só conhece o Sistema S, como é o ministro da área e deveria estar sendo envolvido em uma mudança como esta que impacta o presente, mas compromete o futuro. Houve muitas movimentações para mostrar os equívocos que isso acarreta, abriu-se um diálogo dentro do governo. O que existe de concreto é o entendimento de que o setor produtivo, não apenas a indústria, vai dar mais uma vez sua contribuição, por um período de tempo determinado de outro modo. Não podemos tirar recursos do Sistema S. Vamos sentar e conversar para que possamos absorver serviços do setor público, para diminuir custos, ter ganhos de produtividade, inerentes à iniciativa privada.
E o governo, o que precisa fazer neste momento?
O que nós todos precisamos é de um exemplo. Essa conta tem que vir de uma rubrica chamada despesa. Não é de investimento. Tem que cortar despesas, quer seja custeio, despesas correntes ou financeiras. Precisamos ter isso no setor público, não apenas Executivo, mas Judiciário e Legislativo, no âmbito federal, estadual e nos municípios.
Como é que o senhor viu os cortes de despesas anunciados?
Alguma coisa já aconteceu? Eu ainda não vi nada. A sociedade ainda não viu. Precisamos ver, ainda que sejam simbólicos. Os exemplos são importantes. Não se consegue convencer ninguém sem isso.
O que vocês estão planejando para o evento de domingo?
Este evento nasceu dos principais atores do Sistema S, que são os funcionários, os alunos, as famílias dos alunos, os professores, os sindicatos patronais e laborais. A angústia foi crescendo, a vontade de contribuir com uma ação em resposta a esse pretenso confisco, essa é a palavra certa. Esses atores estão bastante angustiados.
O que vocês irão apresentar e qual a expectativa para o evento?
Vamos mostrar no domingo, das 10h às 13h, no Farol da Barra, uma apresentação de grande parte dos serviços oferecidos para a indústria e a comunidade. A sociedade terá oportunidade de ver de perto um pouco do Cimatec, com robôs, uma unidade para fabricar pães, calçados, entre outras atrações. No decorrer de três horas, acreditamos que iremos receber 20 mil pessoas. Vamos distribuir kits didáticos, usados na educação a distância.
O que está em jogo
Serviços a empresas Aproximadamente 1,6 mil empresas podem perder o auxílio para se adequar à legislação de saúde e de segurança no trabalho, ficando descobertas.
Trabalhadores Quase 60 mil trabalhadores na indústria podem ficar sem serviços oferecidos pelo Sesi.
Jovens e adultos As 3,5 mil vagas de formação para jovens e adultos que não tiveram acesso à educação regular seriam extintas.
Cursos gratuitos Mais de 6,2 mil vagas em cursos gratuitos que hoje são disponibilizadas pelo Senai podem vir a ser extintas por conta nos cortes de recursos.
Outras vagas perdidas Além dos cursos gratuitos, o corte pode comprometer a oferta de cursos particulares ou bancados por empresas em 5 mil vagas porque o Senai teria que reduzir a estrutura.