“Apesar da persistência de problemas grandes como a seca e as diferenças sociais, sabemos que a capacidade de desenvolvimento do Nordeste é ilimitada. Precisamos pensar juntos sobre as possibilidades de abertura de oportunidades para a nossa região”. Com esta defesa, o presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Economista Marcelo José dos Santos, abriu o XXVII Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste (ENE), realizado na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) nos dias 18 e 19 de julho. O evento reuniu cerca de 170 pessoas, entre economistas, estudantes e outros profissionais de diferentes cidades e estados em torno do tema “Região Nordeste: expoente de crescimento econômico”.
A riqueza do conteúdo das palestras foi destacada pelos participantes como o grande diferencial do evento. “Os palestrantes apresentaram informações relevantes sobre a nossa região, as quais nos levaram a refletir melhor sobre o cenário econômico atual e suas perspectivas”, comentou o Presidente da Associação dos Economistas do Sul da Bahia (ASSESBA), Economista Denisvaldo Santos. Segundo outro participante do ENE, Economista Juarez Bispo, “a programação do ENE 2013 foi de excelente qualidade, principalmente por abordar temas de alta relevância à Economia Nordestina”, pontuou.
Abertura
Na abertura do ENE, a ênfase inicial do presidente do Corecon-BA na necessidade de adoção de medidas para superação dos entraves também foi dada pelo vice-presidente da FIEB, Economista Reinaldo Sampaio. “É preciso um exercício de reflexão permanente para romper com o atraso secular e injustificável do Nordeste’, disse ele. “Essas discussões devem servir como base para uma produção teórica voltada para a retomada do crescimento, não só do Nordeste, mas do Brasil. Precisamos encarar as crises como oportunidades de crescer e não como problema”, acrescentou o vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Economista Luiz Alberto de Souza Aranha Machado.
Em seguida, o Secretário de Planejamento do Estado da Bahia (SEPLAN), Economista José Sérgio Gabrielli, representando o governador Jacques Wagner, frisou que o crescimento econômico das cidades pequenas tem sido maior que o das cidades de porte médio, assim como as cidades médias têm apresentado um ritmo mais acelerado que as grandes. “Esse crescimento mais acentuado em localidades mais pobres e que, por isso, contam com uma infraestrutura mais precária, é um desafio a ser superado”, disse.
Gabrielli fez um retrospecto histórico, resgatando os pensamentos econômicos de Celso Furtado e Rômulo Almeida enquanto apresentou os ciclos de crescimento vivenciados pelo Brasil e pelo Nordeste. “Entre 1910 e 1950, a atividade exportadora foi alavancada pelos bens agrícolas, com base no fumo e no açúcar, no caso da Bahia. Na década de 50 foram criadas a Eletrobras, Petrobras, BNDES, Sudene e Banco do Nordeste do Brasil. Já entre as décadas de 1950 e 1990, houve uma fase de transição, notadamente com a ampliação da capacidade de produção e do mercado internacional”, recordou.
O Secretário da SEPLAN finalizou sua participação afirmando que no século XXI iniciou-se uma retomada do crescimento do Nordeste a partir da busca de mecanismosS endógenos para o desenvolvimento sustentável. “Nesse novo cenário, temos grandes desafios a serem superados, quais sejam expandir rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos, universidades, escolas técnicas, capacidade de armazenamento, uso de novas tecnologias, entre outros”.
Palestra Magna
Em sua palestra magna, a Doutora em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Economista Celina Ramalho, introduziu o tema geral do ENE a partir da exposição do cenário atual da economia mundial e brasileira. Neste âmbito, ela destacou as consequências da crise iniciada em 2008, tais como a produção insuficiente, desemprego, déficit público e preços altos na Europa e o ciclo recessivo agudo, com necessidade de plano de recuperação da economia, nos Estados Unidos.
Ramalho afirmou que o fato dos países centrais terem diminuído suas importações piorou a situação comercial do Brasil e dos países emergentes. “O crescimento dos países em desenvolvimento continua grande, mas desacelera-se temporariamente por causa dos problemas econômicos dos países desenvolvidos. Para reagir, têm-se buscado novos arranjos produtivos e comerciais”, ressaltou.
“O mercado brasileiro está fortalecido por novas relações comerciais, agora não apenas com Europa e Estados Unidos, mercados tradicionais, mas com a Ásia e África, novos mercados em expansão”, disse, acrescentando que seis produtos são responsáveis por metade das exportações brasileiras: 1) minério de ferro; 2) petróleo bruto; 3) complexo de soja; 4) carne; 5) açúcar e 6) café. “Paralelamente a estes grandes exportadores, temos a evolução das micro e pequenas empresas (10% do total das exportações)”, destacou.
Ao apresentar o “Nordeste brasileiro em números”, a Economista destacou que a participação da região no PIB Brasileiro é de 13,5%. “O atual cenário nordestino tem tudo para fazer este índice aumentar: grandes investimentos imobiliários feitos por espanhóis e portugueses; crescimento das cooperativas de artesanato; melhoria da infraestrutura para exportações; otimização da infraestrutura urbana; chegada de empresas do sul e sudeste; expansão da frota de veículos (trânsito comprometido), desenvolvimento da construção civil; criação de universidades e expansão do comércio”.
“Além disso”, declarou Ramalho, “há a tradição de investimentos no turismo (mesmo que ainda bastante limitados); a previsão de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em infraestrutura; a força de determinadas indústrias (agrobusiness, petroquímica, papel e celulose, siderúrgicas, novas tecnologias, têxtil) e programas sociais. O aumento de empregos formais entre 10% e 20% ao ano revela o aquecimento do mercado consumidor interno”.
Para finalizar, a Economista destacou a necessidade de elaboração de um plano estratégico baseado em um cenário pessimista e outro no cenário otimista. “Com estas informações, é possível desenvolver análises econômico-financeiras; fazer o controle dos resultados e seguir a adaptação de novas informações econômicas às etapas a serem implantadas posteriormente”.
Turismo no Nordeste
Ao fazer um paralelo entre as vantagens comparativas do Turismo no Nordeste e os principais entraves, restrições e distorções que barram o desenvolvimento do setor na região, o Economista Paulo Gaudenzi, expert no assunto (devido à sua vasta experiência pública na área), apresentou indicadores relevantes do setor que “infelizmente, ainda não é visto como fator de desenvolvimento da região ou mesmo do país, servindo muitas vezes como ‘moeda de troca’, sendo executado com planejamento estratégico falho ou inexistente”, apontou.
Segundo Gaudênzi, entre as vantagens do Turismo na região destacam-se a história; a arquitetura colonial de igrejas, fortes e cidades; as praias; o clima; a quantidade de dias e horas de sol; os parques ecológicos e arqueológicos, a alegria e a hospitalidade das pessoas. Por outro lado, entre os entraves, está o fato de praticamente não haver discussão dos governos com os entes produtores do processo, ou seja, com o Trade Turístico. “Considerando que o Turismo é uma atividade privada, o governo deveria ser, neste campo, indutor da atividade econômica provendo infraestrutura e legislação, além de formar mão de obra direta ou indiretamente através do SENAC e de outras entidades. No entanto, há lacunas e equívocos nestes aspectos”, reforçou.
Outra grande restrição ao desenvolvimento do Turismo no Nordeste destacada pelo Economista diz respeito a problemas de infraestrutura (aeroportos, portos, estradas, rodoviárias, ferrovias e comunicação). “Nossa malha aérea também é um problema de grande peso para a região. Ela é escassa, desencontrada e carece de políticas específicas”, acrescentou. Disse também que as entidades empresariais ligadas ao turismo têm pouca representatividade.
“Por tudo isso, grande é a necessidade do setor de melhor aproveitar seu produto e suas muitas vantagens comparativas (…). O turismo precisa de uma real ação conjunta dos governos para analisar a conjuntura econômica; planejar; vender o produto e investir na infraestrutura necessária”, concluiu Paulo Gaudênzi.
Financiamento do Desenvolvimento
Ao apresentar a missão, a visão e o papel do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o Economista Sydney Salomão da Nóbrega iniciou a finalização do ciclo de palestras do primeiro dia do ENE ministrando sobre o tema “O financiamento do desenvolvimento da Região Nordeste”. Em sua fala, o superintendente do BNB na Bahia apresentou números referentes à participação da instituição nos financiamentos da região por Estado. Ao comentar as operações de crédito e o ranking dos bancos no Brasil, ele mostrou o desempenho operacional do BNB na região, inclusive por setor de investimento (agricultura familiar, pequenas e médias empresas, turismo, outros).
Através de gráficos atualizados e precisos, Salles revelou o crescimento das operações globais de financiamento no Estado da Bahia a longo prazo e o decréscimo de operações de curto prazo desde 2011. “De lá para cá”, revelou o Economista, “o microcrédito do BNB para financiamento urbano (Crediamigo) e rural (Agroamigo) cresceu mais de 32%”, disse. Já o financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foi ampliado em 78,6% nos últimos dois anos. Por outro lado, no último ano, o financiamento das Micro e Pequenas Empresas diminiu 5,6% enquanto os valores contratados para crédito comercial e câmbio foram reduzidos em 61% no mesmo período. Estes números revelaram os setores que estão se desenvolvendo e os que estão sendo mais atingidos pela crise internacional iniciada em 2008.
Grande desafio: retomada do crescimento
Na abertura dos trabalhos do ENE no dia 19 de julho, o vice-presidente da FIEB, Economista Reinaldo Sampaio, apresentou os principais entraves para a retomada do crescimento industrial na Região Nordeste. Para começar, ele destacou que apesar da redução no analfabetismo nos últimos anos no Brasil, a região Nordeste, que ainda possui 15,3% de analfabetos em sua população, está em última posição neste quesito quando comparada às demais regiões do país.
“A taxa de mortalidade infantil na região é a segunda pior do Brasil (…). O número de leitos hospitalares e o gasto total por habitante corroboram a desigualdade na área da saúde”, pontuou. Outro dado preocupante apresentado pelo Economista: 10,6% das rodovias do Nordeste são classificadas como péssimas; 21% ruins; 38,1% regulares. Apenas 26,4% são boas e 3,9% são ótimas. “Apenas esses dados já explicam, em parte, o fato da participação da região Nordeste no PIB brasileiro não ter ultrapassado os 14,1% desde 1985”, disse.
Após apresentar dados não muito animadores referentes ao saneamento e infraestrutura básica; coleta de lixo, entre outros, Reinaldo disse que “apesar da persistência de tantos entraves, acredita que a região nordeste tem o potencial de romper com seu atraso histórico”. Neste sentido, precisa de mais do que 9,31% das indústrias nacionais – na distribuição regional da produção industrial, o sudeste abrange 60,98% e o sul 18,17%. O Nordeste só perde para o Norte (7,04%) e o Centro-Oeste (4,50%). “Precisamos investir em projetos estruturantes nos ramos da infraestrutura, energia eólica, celulose, agronegócio, produtos alimentares/bebidas e bioenergia”, destacou.
Cadeia do Agronegócio
O setor agropecuário aquecendo a economia, com geração de emprego e renda e, principalmente, promovendo a fixação do homem no campo, com alta produtividade e qualidade de vida, através da agroindustrialização. Este foi o desafio apresentado pelo Secretário Estadual da Agricultura do Estado da Bahia, Engenheiro Agrônomo Eduardo Salles, durante a última palestra do XXVII ENE. Demonstrando as potencialidades da agropecuária para o crescimento econômico nos estados da região do Nordeste, o secretário explicou a agroindustrialização na Bahia como um elemento de sustentabilidade, agregando valor ao produto e gerando emprego e renda.
“Agroindustrializar o Estado é uma das metas prioritárias do atual governo da Bahia”, disse Salles, afirmando que atualmente no Estado são produzidas matérias-primas de qualidade e com regularidade em diversas culturas, tais como o algodão, laranja e guaraná. “Então, não é justo que esses produtos sejam apenas exportados por não termos grandes indústrias na Bahia”, destacou.
De acordo com Salles, a agropecuária precisava de um planejamento de curto, médio e longo prazo, para que o produtor rural tivesse segurança ao investir em sua propriedade. “Era necessária a adoção de um planejamento estratégico. Para isso, criamos as 22 câmaras setoriais das cadeias consideradas estratégicas, das quais participam o pequeno e médio produtor, a agroindústria, a iniciativa privada e o Estado. Hoje essas câmaras funcionam a pleno vapor com objetivos reais para os próximos 20 anos, independendo de gestão pública, servindo como exemplos para os demais Estados brasileiros”, destacou. Essas câmaras estão elaborando os planos estratégicos de cada cadeia. Já foram lançados os planos da borracha e do mel, e até o final do ano serão pelo menos cinco os planos concluídos na Bahia”, finalizou.
Momentos relevantes
Além de ricas palestras, o XXVII Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste abriu espaços para uma homenagem especial ao Economista baiano Osmar Sepúlveda (in memorian) feita pelo Economista da SEPLAN Antonio Alberto Valença; lançamento do livro “Reflexões de Economistas Baianos 2012”; uma visita conduzida por guia turística ao Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador (para participantes de outras cidades e estados que foram à capital baiana pela primeira vez); divulgação do Congresso Brasileiro de Economia (CBE 2013); coquetel de congraçamento da categoria e muito mais. “Fizemos o melhor que podíamos para agradar aos nossos colegas nordestinos. Foi gratificante”, avaliou o Conselheiro do Corecon-BA, Economista Arthur Nemrod, um dos organizadores do evento.
Apoio
O XXVII ENE, realizado pelo Corecon-BA, foi patrocinado pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon); Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia); Conselho Regional de Economia da Paraíba (Corecon-PB) e Conselho Regional de Economia do Piauí (Corecon-PI). Apoiaram o Encontro: Conselhos Regionais de Economia dos demais estados da Região Nordeste; Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (SEPLAN), Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI); Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB); Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e Bahia Gás.
Confira alguns dos melhores momentos do ENE: