O Banco Central reduziu, ontem, a taxa de juros básica da economia (Selic) em 0,75 ponto porcentual, para 12,25% ao ano. A decisão, largamente esperada pelo mercado financeiro, fez a taxa retornar ao patamar de dois anos atrás. A inflação controlada e a retomada gradual da atividade econômica foram citadas pelo BC na justificativa do corte, o quarto consecutivo.
Logo após o anúncio, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco anunciaram a redução das taxas cobradas ao consumidor. O último Boletim Focus, feito pelo Banco Central, com representantes do mercado financeiro, apontava a expectativa de uma queda de 0,75 ponto percentual. Mas, dentro do governo e mesmo entre economistas do setor privado, um corte maior vinha sendo defendido, em função das dificuldades para a aceleração da economia e, principalmente, da inflação mais acomodada.
Apesar da pressão, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC optou por fixar a Selic em 12,25% ao ano. O colegiado afirmou, no comunicado emitido após a reunião, que “a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada”. Ao mesmo tempo, disse que “o comportamento da inflação permanece favorável”. O BC destacou, também, o processo de queda da inflação “mais difundido” nos itens da área de serviços.
Na terça-feira, o presidente Michel Temer destacou o fato de a inflação em janeiro, de 0,38%, ser a menor da história para o mês e disse que a taxa sugere a possibilidade de um índice abaixo de 4,5% – o centro da meta de inflação perseguida pelo BC em 2017. “Entramos em janeiro com 5,35% (de inflação acumulada em 12 meses) e, não sem razão, os juros começaram a cair”, disse Temer. Ontem, algumas horas antes da decisão do Copom, o presidente voltou a dizer, por intermédio do porta-voz, estar satisfeito com o comportamento da inflação.
O Copom voltou a destacar que o cenário externo é incerto, muito em função de revisões de política econômica em algumas economias centrais, como os EUA. Outra novidade trazida pelo BC foi a avaliação positiva sobre os preços dos alimentos, que podem contribuir mais para a queda da inflação.
Para o economista-chefe do banco Santander, Maurício Molon, o comunicado do BC deixa a porta aberta para um corte maior da Selic, de 1 ponto percentual, no próximo encontro do Copom, em abril. Ainda assim, ele afirma esperar por outra redução de 0,75 ponto percentual. Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra, também acredita que há possibilidade “bastante plausível” de corte de 1 ponto em abril, embora, em seu cenário, trabalhe com um novo corte de 0,75 ponto.