A maioria das pessoas não vê a hora de botar as mãos no 13º salário e não é novidade que muitas delas vão usar esse rendimento extra para saldar dívidas. Mas em 2014 houve um aumento no número de brasileiros que pretendem aplicar o 13º no pagamento das contas acumuladas – são 68% este ano contra 62% em 2013. Os dados são da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e segundo o diretor executivo de estudos da instituição, Miguel José Ribeiro, a pesquisa aponta que as pessoas se endividaram mais e que vão usar esse dinheiro extra para pagar as contas. Como consequência, o estudo mostra uma menor intenção de gastar com os presentes e outras despesas de final de ano.
“Não deixa de ser um lado positivo, aprender com os erros do passado, e como um ano difícil como 2014 fez com que as pessoas mudassem costumes. Agora priorizam pagar dívidas, guardar uma parte para as despesas de início de ano e o que sobrar usar para o consumo no Natal”, analisa Miguel José Ribeiro.
Houve ainda uma redução de 21,43% no número de consumidores que pretendem utilizar o 13º para a compra de presentes em 2014 em comparação com o ano passado. Um reflexo das dificuldades e preocupações dos consumidores com os gastos neste ano. Apenas 11% dos entrevistados se mostraram dispostos a gastar o rendimento extra com as lembranças natalinas.
DÍVIDAS
A pesquisa mostrou quais as dívidas mais comuns que os entrevistados têm em aberto e pretendem liquidar neste final de ano. A maioria, 81%, tem débitos contraídos no cheque especial e no cartão de crédito. Houve uma redução de 16,67% (1 ponto percentual) na quantidade de consumidores que possuíam dívidas com prestações do comércio em atraso (5% em 2014 contra 6% em 2013).
O cartão ainda é a linha de crédito com maior peso na composição das dívidas em aberto dos consumidores – um total de 43%. Enquanto o cheque especial representa 38%.
CRÉDITO PERIGOSO
De acordo com o economista superintendente do Conselho Regional de Economia – Corecon-BA, Bruno Pires, a maior parte das pessoas tem o hábito de gastar primeiro e depois ver o buraco nas contas, enquanto o comportamento deveria ser planejar as despesas. “Com tantas notícias de aumento na taxa de juros, elevação do preço da gasolina e outras incertezas na economia, parece que as pessoas estão se tornando um pouco mais racionais e consumindo mais conscientemente”, avalia.
O especialista alerta para o cuidado com o crédito fácil e, ao mesmo tempo, perigoso que os consumidores têm acesso por meio de cheque especial e cartão de crédito. “O cheque especial é um crédito muito acessível, é como se fosse seu e não do banco. Mas é preciso lembrar que é um empréstimo bancário e serão cobrados juros. Cuidado também com o cartão, que está com a taxa de juros mais alta dos últimos 15 anos”, adverte Pires.
APLICAÇÕES
Um dado que chama atenção na pesquisa da Anefac é a redução de 50%, em relação a 2013, no índice de consumidores que pretendem poupar parte do que vai sobrar do salário extra de final de ano. De acordo com Miguel José Ribeiro, isso se deve ao fato de que, com o maior endividamento das famílias, grande parte desses recursos será destinada ao pagamento de dívidas, o que reduz o montante que sobra para aplicações financeiras.
RECOMENDAÇÕES
Para o consumidor que pretende priorizar o pagamento de dívidas neste final de ano, a Anefac aconselha a pagar primeiro aquelas que embutem encargos maiores, como o cartão de crédito e o cheque especial, que atingem a média de 10,78% e 8,44% ao mês, respectivamente.
Outro conselho importante é planejar os gastos que pretende fazer com o que sobrar do décimo terceiro salário – guardar uma parte para as despesas do início de ano (IPTU, IPVA e despesas escolares) e usar o restante para as compras de Natal. Para saber como economizar na hora de adquirir os presentes, nossa reportagem preparou algumas dicas. Veja no quadro acima.
Ceia coletiva e presentes baratos são a solução da crise
Já que não dá para evitar algumas despesas em dezembro, como a ceia de Natal e o presente da mãe ou dos filhos, a pergunta é: como arcar com tudo isso sem entrar 2015 com novas dívidas? Segundo o economista e consultor financeiro Edísio Freire, o ideal é não aumentar o endividamento e usar parte do rendimento extra para os gastos típicos do Natal.
“Para não deixar de presentear, você pode diminuir o padrão dos presentes. Além disso, vale alimentar o espírito do Natal em família e reunir todos para uma ceia mais barata”, orienta o especialista. Pensando assim, a família da bancária Lucinda Pereira não abre mão da ceia e dos presentes, mesmo em um ano difícil como 2014. Para ela, além da economia nos gastos, a reunião representa a união de todos.
“Começamos a combinar em novembro para que toda a família possa se programar e até comprar com antecedência produtos que saem mais em conta, como o peru de Natal. Nós também dividimos os pratos que cada um dos irmãos vai levar para o jantar do dia 24 de dezembro”, comenta a bancária, que complementa: “É uma forma de economizar porque se apenas uma pessoa pagasse a ceia toda ficaria muito caro”.
Sobre a troca de presentes, ela diz que também não pode faltar, mas “os presentes não são mais como em anos anteriores, agora a gente tem que comprar coisas mais baratas”, conclui.
Fonte: Correio 24h