Soteropolitanos e turistas que frequentam as praias de Salvador neste verão devem ficar atentos a diferença e a alta dos preços. Levantamento feito pela reportagem de A TARDE em oito das principais praias da capital baiana – no período de 29 de janeiro a 4 de fevereiro – mostra que o preço dos petiscos ou iguarias como acarajé e caldo de sururu, e de bebidas como cerveja e refrigerante, chega a variar até 50% de uma praia a outra. A praia da Barra é o local onde os alimentos e bebidas saem mais caro. Em compensação, a praia de Jardim de Alah tem os valores mais em conta para os consumidores.
De acordo com o levantamento feito nas praias da Barra, Flamengo, Itapuã, Jardim de Alah, Patamares, Piatã, Stella Maris e Ribeira, a maior variação é praticada no acarajé. O consumidor que estiver nas areias da Barra paga R$10 pela unidade, ou R$23 pela porção com 18 mini acarajés – R$ 5 mais caro que o cobrado em todas as outras praias, onde o consumidor desembolsa R$ 5 (a unidade), ou R$18 (a porção) pelo mesmo petisco.
Com o caldo de sururu acontece algo parecido. Nas praias de Itapuã, Patamares e Piatã, o banhista paga entre R$4 e R$5. Já na praia da Barra, próximo ao farol, o consumidor desembolsa pelo menos R$6 a R$7 pela iguaria.
A diferença de preço não acaba com o acarajé e o caldo de sururu. Garrafas de água, água de coco, cervejas e refrigerantes também apresentam valores distintos. O refrigerante, por exemplo, pode variar até 50% – entre R$2,50 no Jardim de Alah, R$3 em Itapuã, Patamares, Piatã e Stella Maris; R$3,50 no Flamengo, R$4 na Ribeira e R$5 na praia da Barra.
A reportagem ainda apurou que, das praias pesquisadas, a de Jardim de Alah também tem o valor mais em conta quando o assunto é cerveja. O consumidor desembolsa R$ 4 pelo produto, enquanto, na Ribeira, Stella Maris, Patamares e Piatã, ele paga R$ 4,50. Na praia do Flamengo, o banhista gasta R$5. Já na Barra, novamente, ele gasta mais: cerca de R$6 pela lata da cerveja da mesma marca pesquisada.
Apesar de ser um dos lugares mais populares do Litoral de Salvador, é em Piatã onde a água mineral sai mais cara. A garrafa de 500 ml na praia custa R$ 3. Em todas as outras praias pesquisadas, o custo varia entre R$ 2 a R$ 2,50.
A única bebida com o mesmo valor em todas as praias da capital é a água de coco, que custa R$3.
O consumidor também deve ter mais atenção na cobrança de sombreiros e cadeiras nas praias de Salvador. Antes de sentar e escolher o que vai comer e beber, quem vai ao Porto da Barra deve saber que irá pagar R$ 10 por um sombreiro e R$ 3 por cada cadeira. Nas outras praias, a cobrança do serviço vem incluída na conta do cliente em um percentual de 10% do que for consumido.
O estudante de medicina, Kevenn Medeiros, 26 anos, frequenta as areias da Barra duas vezes por semana. Ele diz que alguns preços chegam a ser assustadores em relação a outras praias que ele também costuma ir na capital. “Aqui é tudo mais caro. Em agosto, eu paguei R$4,50 numa caipirinha, hoje eu pago R$8. Levei um susto nos últimos dias”, disse.
Na praia da Ribeira, os consumidores também relatam a alta dos preços. A dona de casa Ana Cristina Guimarães conta que os preços praticamente dobraram no local. “Comia um escondidinho de camarão de R$36 até novembro, hoje eu venho aqui na Ribeira e pago R$50. Moqueca de peixe, então, que era R$22, agora está por quase R$40. Não há salário mínimo que banque tanto”, reclama.
Mas os proprietários de restaurantes e vendedores ambulantes, que possuem estabelecimentos nas praias pesquisadas, quando questionados sobre os valores dos produtos comercializados, apontam diversos fatores para o aumento. Edson Alves, dono do restaurante Gosto do Mar, localizado na Ribeira, relata que, no verão, os valores da água e energia ficam mais caras do que na baixa estação. A alternativa, segundo ele, é aumentar os valores nos produtos vendidos.
“Tudo subiu assustadoramente. A minha luz chegava no máximo R$830, esse mês chegou R$1.700. Quem é que vai ficar no prejuízo se nada no meu restaurante aumentar?”, rebate.
Nas areias do Flamengo, a vendedora ambulante, Maria Helena Pereira, também defende a alta dos preços. Ela enfatiza que os fornecedores repassam os produtos mais caros e que não há possibilidades de vender mais barato.
“O coco é repassado por R$1,50. Eu vendo por R$3. Mas ninguém leva em conta que eu tenho que comprar o saco de gelo e canudo. Alguns clientes ainda exigem copo descartável. A caixa de cerveja com 12 unidades, por exemplo, era repassado por R$ 20, agora custa R$ 27. As pessoas não podem esquecer que estou aqui para ganhar também”, calcula.
Inflação – Ângelo Guerreiro Costa, professor e consultor de economia e finanças, afirma que a alta dos preços está diretamente ligada a uma série de fatores, dentre eles, a temperatura. Quanto maior o calor, maior a inflação. Ele explica que a necessidade de consumir líquido nesse período é maior do que em outras épocas do ano.
“O preço de tudo subiu no último ano, principalmente das bebidas alcoólicas. Isso é bem complicado porque o baiano não tem hábito de beber água na praia quando está com sede, ele bebe cerveja, é uma questão cultural. Só que água é mais barata, hidrata e você pode até levar de casa”, analisa.
Outro ponto que o professor destaca é o ócio durante o verão, época em que a cidade recebe mais turistas, acontece mais festas e jovens estão de férias de colégios e faculdades. “A procura na Barra sem dúvida é maior porque lá é o lugar mais organizado em comparação às outras. As demais praias estão abandonadas, não têm quiosques, são vazias. O turista já chega em Salvador querendo ir à Barra, com isso, os vendedores aumentam os produtos, fazem seu próprio índice e os preços quase dobram, às vezes, sem qualquer justificativa. É uma renda garantida para quando as vendas esfriarem no inverno”, completa.
Para não deixar de frequentar a praia favorita, mas gastar menos, a saída, segundo Costa, é trazer esses produtos de casa ou comprar em um mercado a caminho da praia. É o que faz a publicitária Mariana Lima, 19 anos. Ela, que diz não trocar a Barra por nada, leva uma bolsa lotada com todos os itens necessários para passar o dia na praia.
“Trago de protetor solar a refrigerante. Não tenho dinheiro para gastar R$100 todos os finais de semana. Trago minha canga, sento na areia, paquero, fico bronzeada e me divirto com os meus amigos. No final do dia, saio daqui e não gasto R$10”, conta.
Fonte:http://atarde.uol.com.br/economia/materias/1482935