Resultado da conjugação de fatores estruturais com o cenário econômico do momento, a competitividade brasileira tem caído ano a ano. No ranking do Institute for Management Development (IMD), o país perdeu 16 posições desde 2010, passando a ocupar o 56º lugar entre os 61 países analisados.
O Brasil teve o seu pior desempenho desde que o IMD iniciou o levantamento, em 1989. O baixo desempenho é confirmado por outras instituições, como o Fórum Econômico Mundial, que em 2014 classificou o Brasil na 57ª posição, entre 144 países.
A competitividade brasileira fica mal colocada até mesmo no relatório da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), que inclui apenas 15 países, agrupados por terem características econômico-sociais e/ou participação no mercado internacional similares. A CNI conferiu o penúltimo lugar ao Brasil, que perde de todos os parceiros do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul).
Para reverter esse quadro, o diretor executivo da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, defende que “o país precisa de regras estáveis, pró-iniciativa privada. E precisa solucionar as questões relativas ao chamado Custo Brasil: excessiva carga tributária, gargalos de infraestrutura, legislação trabalhista defasada”.
O economista da Kaduna Consultoria, Roberto Giannetti da Fonseca, ressalta que a competividade é fundamental para o crescimento econômico, a geração de empregos e a elevação da renda.
Se referindo a países com indústria forte, como Alemanha, Estados Unidos e Coreia do Sul, Giannetti aponta: “Investiram maciçamente em educação profissional, pesquisa de produtos, eficiência tributária e logística, e um bom ambiente de negócios, com estabilidade macroeconômica”.
Menezes, da Fieb, acrescenta: “Todos investem em inovação, mesmo a China, que até pouco tempo focava na mão de obra barata”. O papel das políticas públicas na construção do cenário econômico necessário para ampliar a competitividade é destacado pelo coordenador do Centro de Inovação da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda.
“Não é possível ser competitivo em todos os setores”, afirma, explicando que uma das funções das políticas é identificar os segmentos industriais com melhor potencial no mercado exterior.
Na última reportagem da série especial sobre a indústria no Brasil, o CORREIO apresenta o perfil de alguns países bem-sucedidos nos fatores apontados como maiores entraves ao desenvolvimento industrial no país.
Alemanha: sistema de transportes é ponto alto do país
Quarto principal parceiro comercial do Brasil, a Alemanha é um destaque no transporte de cargas, ocupando a 7ª posição no ranking de infraestrutura do Fórum Econômico Mundial.
De acordo com publicação da Aliança Logística da Alemanha, a eficiência é devida à “forma especial do transporte de mercadorias, no qual as carretas de caminhão ou outras unidades de carga são transportados em longas distâncias sobre trilhos ou por hidrovias”.
Entre 2000 e 2011, a Alemanha ampliou o transporte ferroviário em 43,5%, enquanto o Brasil tem a mesma quantidade de ferrovias desde 1922. Concentrando 81,7% do transporte de insumos e produtos nas rodovias, mesmo com custo seis vezes maior, o Brasil está na 76ª no ranking do Fórum.
Outro trunfo alemão é o Porto de Hamburgo, o segundo maior da Europa, com 70 km² de terminais. O porto bateu seu recorde de transferência de carga em 2014, com 145,7 milhões de toneladas, um crescimento de 4,8% em relação a 2013.
No Brasil, a pesquisa de Custos Logísticos, realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), em 2014, indicou que 45% das empresas consideram a estrutura portuária do país muito ruim.
Para o coordenador do Centro de Inovação da FDC, Carlos Arruda, o sucesso alemão é resultado, sobretudo, de uma “estratégia de país”, que reúne os setores público e privado, as universidades e os institutos de pesquisa.
Taxa de juros baixa é segredo de sucesso dos Estados Unidos
Referência quando o tema é financiamento para o setor industrial, os Estados Unidos ocupam o 3º lugar no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial.
“Além de reunir as condições de juros baixos e amplo acesso ao mercado de capitais, ainda há um enorme mercado secundário de debêntures, onde empresas se consorciam e conseguem obter crédito a custo mais baixo”, explica o diretor executivo da Fieb, Vladson Menezes.
O abismo entre os EUA e o Brasil fica claro quando se observa que a taxa de juros básica do país (Selic) está em 14,25%, enquanto a americana varia de 0% a 0,25%.
De acordo com o coordenador do Centro de Inovação da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, um dos principais motivos para essa diferença é que no Brasil o sistema é bastante orientado para o financiamento do Estado, tendo o governo como cliente principal.
Nos EUA, por sua vez, o foco do sistema financeiro está na concessão de crédito.
Um atenuante no Brasil seria a oferta de capital subsidiado para a indústria, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), utilizando a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que tem subido continuamente desde o início do ano e atualmente é 6,5%.
Mas, mesmo antes da alta da TJLP, que se manteve estável em 5% em 2013 e 2014, o país já ocupava o último lugar no ranking de Disponibilidade e Custo de Capital da Confederação Nacional da Indústria.
China manipula moeda para liderar em exportações
Líder em ambiente macroeconômico no relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e no ranking de exportações da Organização Mundial do Comércio, a China causou rebuliço no mercado internacional na primeira quinzena de agosto ao desvalorizar sua moeda, o yuan, por três dias seguidos, totalizando uma queda de quase 4,5%.
Embora a desvalorização das moedas do Canadá e da Turquia seja apontada pelo relatório da CNI como impulsionador do avanço dos dois países em cinco posições no ranking de ambiente macroeconômico, a economista da entidade Flávia Ferraz chama a atenção para os riscos envolvidos na estratégia.
“É uma medida de curto prazo para estimular as exportações, mas não é o ideal. Pode gerar uma guerra cambial, com todos países desvalorizando moedas, o que resultaria em um problema econômico global”, analisa.
No caso chinês, os efeitos colaterais surgiram rapidamente, com uma derrocada no mercado de ações que derrubou Bolsas em todo o mundo. O impacto levou o Banco Central Chinês a cortar juros e depósitos compulsórios na última semana.
No Brasil, a recente alta do dólar (desvalorização do real) colaborou para minimizar a queda de produção da indústria no segundo trimestre, com um aumento de 4,5% na exportação de manufaturados, especialmente commodities industriais.
Foco em educação acelera crescimento na Coreia do Sul
Em 1980, a Coreia do Sul tinha um Produto Interno Bruto (PIB) menor que o do Brasil, mas em 2012 o país alcançou o triplo do PIB brasileiro através do rápido avanço em competitividade.
Um dos pilares desse crescimento está na produtividade do seu setor industrial, que ocupa o 4º lugar no ranking da Confederação Nacional da Indústria (CNI) 2014, elaborado com dados do Institute for Management Development. O Brasil aparece na 12ª posição, entre 15 países, com pouco menos de um terço do índice apresentado pela Coreia.
Ressaltando que a baixa produtividade brasileira se deve a problemas internos e externos às empresas, o diretor-executivo da Fieb Vladson Menezes defende que o avanço “passa por um trabalho mais qualificado, tanto em termos gerais quanto específicos. Isso demanda investimento em educação básica e profissionalizante”.
Essa foi a fórmula aplicada pela Coreia do Sul, líder em qualidade da educação no relatório da CNI. O país reduziu o analfabetismo a menos de 1% e tem formado trabalhadores altamente qualificados, com 86% dos jovens cursando o ensino superior.
Com todas as etapas de ensino centralizadas no governo federal, a Coreia foi pioneira na oferta de internet banda larga em todas as escolas.