O presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa, foi entrevistado nesta quinta-feira (20) no programa MS Record, telejornal exibido no Mato Grosso do Sul. Dantas falou sobre as perspectivas para a economia em 2015. A entrevista foi realizada pela jornalista Laura Vilalba.
Entrevista:
LV: Paulo, vamos começar explicando para os telespectadores qual é o motivo deste baixo crescimento do Brasil e destas perspectivas que têm deixado as pessoas muito ansiosas e preocupadas também?
PDC: Em primeiro lugar, quero dizer o seguinte: acho que não há nenhuma motivação para que as pessoas fiquem com excesso de preocupação. Num ambiente econômico, é preciso que você tenha um ambiente político muito bem definido. Nós temos estabilidade política, isso é o item número 1. O item número 2 diz respeito a um dado que é importante na economia brasileira. Nós temos boa empregabilidade. Em terceiro lugar, nas nossas contas externas nós ainda temos uma estabilidade e até com uma certa sobra. Isso é um diagnóstico mais ou menos equilibrado. No que diz respeito aos problemas, nós convivemos com elevadas taxas de juros…
LV: E a inflação?
PDC: A inflação que bate na nossa porta, mas ainda não chega a ser uma coisa preocupante. O que é preocupante para a economia deslanchar seria que se ampliasse os níveis de investimento, tanto investimento público quanto investimento privado.
LV: Essa questão da política baseada no incentivo ao consumo tem que ser trocada por incentivo ao investimento. Mas como incentivar a iniciativa privada, por exemplo, a investir mais se eles estão justamente com esta apreensão quanto a 2015?
PDC: A gente precisa separar a conduta das pessoas da conduta dos investidores. O investidor é uma coisa, o investimento tanto pode vir do setor público quanto do setor privado. Nós podemos falar com relação à conduta das pessoas. É necessário que as pessoas tenham um certo resguardo com relação aos seus gastos, especialmente os gastos de fim de ano.
LV: Além de cuidar deste orçamento doméstico, inclusive com a ajuda de planilhas, muitas pessoas tem comentado sobre a possibilidade de deixar de comprar coisas em 2015. Por exemplo: não vou investir na compra de um imóvel, não vou comprar um carro novo, pelo contrário, eu vou investir na compra de dólar para eu segurar e guardar meu dinheiro. Isso procede? Vale a pena fazer isso ou não chega nesse ponto?
PDC: A minha opinião é de que não chega neste ponto. As pessoas que vão fazer algum tipo de poupança podem procurar o sistema bancário, que é um sistema bancário bem equilibrado, hígido, ou recorrer à velha e tradicional poupança que nunca fez mal a ninguém. Eu acho que não há motivação para as pessoas ficarem tão apreensivas. Elas precisam ter cuidado, ter o seu orçamento e o seu planejamento pessoal e em cima disso gerenciar suas próprias finanças, isso é necessário. Eu quero chamar atenção muito especialmente àquelas pessoas que têm endividamento. Essas precisam de descobrir formas para se livrar das dívidas que têm custo elevado.
LV: E quais são as orientações para estas pessoas que estão nesta situação? Orientações práticas de um economista.
PDC: Orientação prática: se a pessoa tem um débito muito elevado, por exemplo, com um cartão de crédito ou um cheque especial, ela deve levantar outro tipo de financiamento no próprio banco e eliminar estas dívidas que são afetadas por um nível muito elevado de taxa de juros.
LV: Em vez de fazer o pagamento mínimo do cartão de crédito, é melhor procurar o banco e tentar uma negociação diferente.
PDC: Exatamente isso. Porque aquele saldo que fica remanescente no cartão de crédito, aquilo é atingido por taxas de juros que não têm nenhuma civilidade. Então a pessoa tem que se livrar daquilo ali e optar por outras vias de financiamento das suas contas pessoais e abolir aquelas lá, porque são atingidas por muito elevadas taxas de juros.
LV: Vamos falar um pouco sobre Mato Grosso do Sul. Você está aqui em Campo Grande para participar de um evento, o Encontro de Economistas da Região Centro-Oeste, o nosso estado tem um perfil de agronegócio mas começou a fomentar a industrialização. O que você vê para essa nossa região em 2015?
PDC: Eu acho que o estado do Mato Grosso do Sul, como os demais estados da região Centro-Oeste, tem uma característica muito especial porque tem um horizonte de crescimento em que se destaca a parte do setor industrial, que é uma coisa bem evidente que está às portas dos que pretendem investir aqui no estado. Acho que esta fronteira deve ser explorada, até porque o estado sempre teve esta característica de atividade primária, e a atividade industrial é uma porta aberta que está aí para ser explorada. Eu vi já na imprensa local que o setor industrial teve um desempenho muito significativo no decorrer deste ano e do ano passado e acho que ainda pode ter uma evolução muito mais significativa.
LV: Então as perspectivas são boas para a economia de Mato Grosso do Sul no ano que vem?
PDC: Eu posso colocar a região Centro-Oeste como um todo, que sempre se destacou na economia brasileira com níveis de crescimento acima da média nacional. Isso é um dado importante e eu acho que decorre desta fronteira que tem aí pela frente, com as condições que são favoráveis para isso.
LV: Muito positivo, muito animador. Obrigada pelas orientações, Paulo Dantas. Acabei de conversar com o presidente do Conselho Federal de Economia.