As compras do mês no supermercado têm comprometido cada vez mais a renda das famílias. É o que mostra a última Pesquisa da Cesta Básica de Alimentos divulgada, ontem, pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que registrou forte alta em maio em todo o país, mas sobretudo na capital baiana.
Em Salvador, a cesta ficou 10,69% mais pesada para o bolso do consumidor na comparação com o mês anterior, passando para a 10ª cidade com a cesta básica mais cara entre as 18 capitais analisadas, quando custumeiramente ficava entre a 2ª ou a 3ª mais barata.
“Hoje, Salvador é a cidade que tem apresentado a maior alta de preços tanto para os 12 meses (anteriores), quanto para os meses de janeiro a maio de 2015”, explica a supervisora técnica do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias.
Com a alta no custo da cesta básica, o trabalhador que recebe um salário mínimo comprometeu 48,01% do seu rendimento líquido, valor 32,5% maior que o custo para o sustento de uma família que ficou em R$ 1.044,12. Em abril, o mesmo custo era de R$ 943,22.
“De janeiro a maio foram meses determinantes. A grande concentração de preços em alta está neste período”. Nos últimos 12 meses, (de junho de 2014 a maio de 2015), o custo dos alimentos básicos apresentou alta de 25,41%. Nos primeiros cinco meses de 2015, o acumulado supera o índice, com 29,95%.
Impacto
No mês passado, a estudante de Fisioterapia Laiane Costa gastou cerca de R$ 523 no supermercado. Quando voltou às compras na última semana, abriu mão da carne, frango, frutas e tempero justamente porque tinha achado o valor salgado. Tomou um susto quando chegou ao caixa. “Comprei bem menos que no mês passado e paguei R$ 630”, conta.
A cesta básica de Salvador ficou mais cara no mês de maio em decorrência da alta nos preços de sete dos 12 produtos que a compõem (veja no infográfico abaixo). A cesta passou a custar R$ 348,04, contra os R$ 314,44 registrados em abril.
O óleo de soja manteve o preço médio inalterado no período. O tomate foi o maior responsável pela alta da cesta, pois ficou 60,32% mais caro no mês passado, seguido pela banana (alta de 9,15%), carne bovina (elevada em 2,57%) e pão francês (1,61%).
Por isso, a estudante teve que adotar medidas ainda mais drásticas em casa. “É quase uma economia de guerra. Só tenho comprado frutas e legumes em dia de promoção. Bato tudo no liquidificador, faço polpa, tempero pronto e daí já congelo para não correr o risco de ter que comprar mais caro depois”, afirma Laiane, que nem lembra a última vez que comprou banana.
“Uma penca por R$ 5, como paguei na feira é um absurdo. Tive que substituir por outra fruta”.
Motivos
A supervisora técnica do Dieese, Ana Georgina Dias, associa a alta de preços aos insumos – como no caso do combustível e da energia – e o próprio contexto econômico em que o país se encontra. “No geral, o cenário econômico tem encarecido a produção, que acaba repassando esse ônus para o consumidor”. A alimentação é um dos itens que mais têm pressionado a inflação.
“Sem dúvida, a perda do poder de compra é muito significativa”. Já a Associação Bahiana de Supermercados (Abase) não culpa a inflação, mas sim as questões climáticas, como justifica o consultor da Abase, Rogério Machado. “Não está chovendo no Sul e no Sudeste e isso acabou encarecendo o valor destes produtos que registraram um reajuste maior”.
A alta nos preços vai levar a Associação do Movimento das Donas de Casa e Consumidores da Bahia (MDCCB/BA) a tentar negociar junto aos supermercados o congelamento dos preços de alguns produtos. “Estamos planejando esta ação coletiva amparada pelo Artigo 107 do Código de Defesa do Consumidor. A inflação está demais”, considera a presidente da entidade, Selma Magnavita.
Apesar de não haver ainda uma lista de itens definidos, a prioridade será para os que apresentaram, em 2015, reajustes acima de 20%. “Você não consegue comprar mais aquilo que adquiriu na última semana pelo mesmo preço, quem dirá no último mês”.
Restaurantes e bares faturam 8,39% a menos, mostra Abrasel
No primeiro trimestre de 2015, o setor de alimentação fora de casa amargou uma queda no faturamento médio de 8,39%. É o que mostra os dados divulgados pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), quando comparados aos do quarto trimestre do ano passado.
De acordo com a Abrasel, considerando a sazonalidade e a redução histórica de 6% para o período, a queda real chega a 2,39%. Segundo o presidente executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, a queda reflete a busca do consumidor por refeições mais baratas.
O movimento atinge, sobretudo, os restaurantes que oferecem refeições com valor superior a R$ 30, mas, por outro lado, favorece os estabelecimentos que cobram preços inferiores a R$ 20. “O setor encolhe, mas o encolhimento não alcança a quantidade de refeições nem a frequência. Ele ocorre na redução do gasto médio por pessoa”.
Solmucci disse ainda que, nos últimos anos, o setor manteve reajustes acima da inflação.“Há quase uma década, os preços sobem acima da inflação. O aumento de preços chegou a ser quase o dobro da inflação acumulada no período. O consumidor deu um basta nisso”.
Atualmente, um terço dos brasileiros faz refeições fora de casa. Sobre a previsão de negócios para este ano, 65% acreditam em mais quedas, 35% estimam que ficará estável e apenas 5% apostam em melhorias.