Os aposentados que recebem os benefícios do INSS acima do salário mínimo terão reajuste de 11,28%, de acordo com o Ministério do Trabalho e da Previdência Social. O percentual referente à correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), divulgado na última sexta-feira (8), aplica-se aos benefícios concedidos até janeiro de 2015. Quem passou a receber a partir de fevereiro receberá o reajuste de acordo com o INPC acumulado desde a concessão do primeiro pagamento.
De acordo com portaria publicada ontem pelo ministério, o teto do INSS foi reajustado de R$ 4.663,75 para o valor de R$ 5.189,82. Vale lembrar que, devido à forma de cálculo adotada pela Previdência, o benefício efetivamente pago é sempre inferior ao teto. Os aposentados que recebem salário mínimo tiveram aumento de 11,67%, de R$ 788 para R$ 880.
O reajuste vai representar um acréscimo de R$ 21,5 bilhões nos gastos do governo com os benefícios, segundo cálculos do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Muito para o combalido caixa do governo, mas pouco para quem tem que viver do benefício, dizem os aposentados. O impacto para o governo é maior do que os R$ 19,6 bilhões com o aumento das aposentadorias e pensões de um salário mínimo (que subiu de R$ 788 para R$ 880).
Fazendo as contas
O reajuste anunciado ontem deve alcançar 10 milhões de aposentados, pensionistas e segurados do INSS. Os novos valores vão ser depositados entre os dias primeiro e cinco de fevereiro.
“O reajuste foi uma reposição da inflação que chegou a 10,67%. O aposentado precisava desse reajuste para recompor seu poder aquisitivo, já no último ano o preço das coisas subiram bastante, principalmente para quem vive do benefício”, explica o presidente do Conselho Regional de Economia na Bahia (Corecon-BA), Vitor Lopes.
Para ele, o reajuste será importante para “dar um fôlego” para quem sofre com a alta no custo de vida. “Pode não resolver, mas já ameniza o impacto disso”, ressalta Lopes. Já para quem ganha o benefício equivalente a um salário mínimo o reajuste foi um pouco maior, de 11,6%, que é o percentual de aumento do salário mínimo neste ano (R$ 880).
Vida difícil
O aposentado Luiz Barbosa, 74 anos, já soube do reajuste, mas disse que ainda não vai fazer planos. “Será bem-vindo, mas deixa chegar primeiro. Com esse negócio de levarem nosso dinheiro todo, a gente nem sabe quanto vai receber”, falou, enquanto tentava fazer um cartão no Banco BMG para pegar um empréstimo. Tirando os descontos, Barbosa recebe R$ 1,8 mil.
Se para Barbosa não está fácil manter as contas em dia, o também aposentado Eraldo Carcario, 72, revela que não sabe mensurar o tamanho das dívidas. “A gente corta algumas contas, compra menos verdura, faz de tudo para economizar e, às vezes, arranja até um trampo, mas nem assim dá”, conta ele, que deve aproximadamente R$ 260 para um amigo e ainda tem que pagar pelo menos R$ 800 a instituições financeiras. “Tem algumas dívidas que já vêm descontadas no meu contracheque, outras falto pagar mais de 20 prestações. Está difícil”, reconhece.
Aposentado há 15 anos, Francisco Geraldo, 69, afirma que seu salário desvalorizou bastante nos últimos anos e hoje ele precisa fazer um jogo de cintura na hora de pagar as contas. “Faço uma ginástica. Um mês pago uma, outro mês pago outra. E vou levando a vida assim. O condomínio sempre acaba ficando de lado, porque os juros são menores”, diz. Quando questionado sobre o que iria fazer, caso as contas aumentassem este ano ele respondeu: “Não tem o que fazer, né? Vou continuar sem pagar”.
Para o servidor público aposentado Antônio Marques, 70, a inflação disparou de tal maneira que hoje é impossível viver bem com o salário que recebe. “Antes recebia dez salários mínimos. Hoje o que recebo não chega a cinco salários. Se eu, que recebo isso, não estou conseguindo viver direito, imagina quem recebe um salário mínimo? Quando as coisas apertam, a gente pede ajuda da família ou pesquisa por preços menores, mas é difícil. Eu mesmo não consigo comprar tudo à vista. Tenho que parcelar”.
Mesmo com um salário um pouco maior, o custo de vida e o endividamento dos aposentados seguem em alta. “Na verdade, o aumento por si só não resolve, porque o ganho real não é significativo. Tudo continua muito caro”, ressalta a economista chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
O cenário econômico vai continuar exigindo muito malabarismo dos aposentados para manter as contas em dia, aponta Marcela Kawauti. “Resolver este problema vai exigir que o aposentado faça um ajuste no orçamento adequado ao que ele realmente ganha”, recomenda.
Custo de vida dos aposentados é maior, diz Baia
Mesmo com o aumento no valor do benefício para os aposentados do INSS que ganham acima do mínimo, a categoria considera o reajuste concedido muito abaixo da expectativa. Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados na Bahia, Nilson Baia, o reajuste veio em uma boa hora, mas ainda assim não será capaz de acompanhar a alta no custo de vida do aposentado.
“Apesar de melhorar a condição do aposentado, o aumento não faz justiça às perdas que tivemos. O que nos preocupa é que a cesta básica e a cesta de medicamentos, que mais comprometem o benefício do aposentado, estão com valores bem acima da inflação”, defende Baia. Ainda de acordo com ele, a inflação vai continuar pesando no bolso de quem já deu sua contribuição ao mercado de trabalho. “A inflação nos obriga a comprar mais caro. Quando a gente receber o salário, ela já corroeu o aumento”, explica.
Aposentado há 15 anos, Francisco Geraldo, 69, afirma que seu salário desvalorizou bastante nos últimos anos e hoje ele precisa fazer jogo de cintura para pagar as contas. “Um mês pago uma, outro mês pago outra. E vou levando a vida assim. O condomínio fica de lado, porque os juros são menores”, diz.Ele conta que antes de se aposentar ganhava o equivalente a dez salários mínimos. O montante que hoje não chega nem a metade. “Quando a gente é mais velho, além de ter que comprar muito remédio, o custo de vida fica bem mais caro”, diz. Se as contas aumentarem ainda mais este ano, ele vai continuar sem pagá-las. “Não tem o que fazer, né?”, lamenta.