Baixos níveis de confiança e os efeitos defasados da política monetária são os dois fatores que levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) a parar de subir o juro na reunião da semana passada, segundo indicação da ata desse encontro.
Divulgado nesta manhã, o documento — ao contrário da expectativa de muitos analistas econômicos — não traz indicações explícitas dos próximos passos de política monetária. Em comunicado divulgado na semana passada, o Copom havia deixado a dúvida se o ciclo de alta se encerrou realmente, ao dizer que a manutenção do juro em 11% ao ano era uma decisão tomada “neste momento”.
A ata reafirma que há resistência dos índices de inflação e que, entre os fatores que concorrem para isso, há “dois importantes processos de ajustes de preços relativos ora em curso na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres”.
O Copom reforça a visão de que a política monetária “pode e deve conter os efeitos de segunda ordem” decorrentes desses dois fatores e enfatiza que, para tanto, “nos últimos 12 meses as condições monetárias foram apertadas”.
O colegiado também pondera que os efeitos da elevação da taxa Selic sobre a inflação, em parte, ainda estão por se materializar. “Além disso, é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados”, diz.
No texto, as projeções para a inflação do Banco Central (BC) para 2014 e 2015 cederem, mas continuam acima do centro da meta de inflação, de 4,5%. Essas estimativas estão incluídas no cenário de referência, que considera a hipótese de manutenção da taxa de câmbio em R$ 2,20 e Selic em 11% em todo o horizonte relevante.
A ata traz ainda uma linguagem menos assertiva sobre o reequilíbrio entre a absorção doméstica e Produto Interno Bruto (PIB) no horizonte relevante para a política monetária, devido a fatores como mudanças na composição da demanda agregada e ganhos de produtividade. O comitê entende que essas são mudanças que vão ocorrer, mas indica que devem se materializar no “médio prazo” e em prazos mais longos.
Também passa a considerar que a retomada da competitividade da indústria deve ocorrer em prazos mais longos e não no horizonte imediato da política monetária, como sugeria em documentos anteriores.
O Copom mudou ainda sua visão sobre o ritmo da atividade. Antes, a avaliação era de que o ritmo de expansão da atividade doméstica tenderia a se manter “relativamente estável” em comparação com 2013. Agora, o colegiado diz que “o ritmo de expansão da atividade doméstica tende a ser menos intenso este ano, em comparação ao de 2013”.
O colegiado do BC manteve, contudo, a avaliação de que “os riscos para a estabilidade financeira global permaneceram elevados, em particular os derivados de mudanças na inclinação da curva de juros em importantes economias maduras”. Mesmo vendo baixa probabilidade de eventos extremos, “o ambiente externo permanece complexo”, observa.
Comentou ainda que a expectativa de que a atividade global se tornará mais intensa dentro do horizonte relevante para a política monetária. No entanto, fez um ajuste em sua linguagem, apontando que tal perspectiva se mantém, “não obstante dados recentemente divulgados terem se mostrado menos positivos do que se antecipava”. Até então, o BC mencionava dados “positivos recentemente divulgados”.
A autoridade monetária voltou a afirmar que há avanços nas economias maduras, inclusive em países da área do euro, e que nas economias emergentes “o ritmo de atividade não tem correspondido às expectativas, em que pese a resiliência da demanda doméstica”.
Para o BC, as perspectivas indicam moderação na dinâmica dos preços de commodities e ainda há evidências de tensão e de volatilidade nos mercados de moedas internacionais.